segunda-feira, 7 de maio de 2018

A Dialética do Sexo e o feminismo de Shulamith Firestone


Hoje o feminismo se esconde atrás de um discurso melífluo ou, pior ainda, de uma linguagem cifrada que impede que os desavisados efetivamente entendam o que lhes estão a dizer. Isso permite que os militantes feministas arregimentem jovens inocentes, convencendo-os inicialmente de que “feminismo” seria a defesa de um tratamento justo para homens e mulheres. 

Esta definição talvez tivesse um fundo de verdade até as primeiras décadas do século XX, com a chamada primeira onda feminista. Entretanto, a partir da segunda onda feminista (nos anos 60), isto é simplesmente falso. O feminismo desde então nada tem a ver com justiça. É uma tentativa de engenharia social com fundamento em crenças ideológicas de forte origem marxista.

Tomemos, por exemplo, a influente autora feminista Shulamith Firestone. Em 1970 ela escreveu um livro que se tornou um clássico do feminismo: “The Dialectic of Sex” ("A Dialética do Sexo"). Sobre esta obra, escreveu a também feminista (e influente) Naomi Wolf: "Ninguém pode entender como o feminismo evoluiu sem ler esse marco radical, inflamatório da segunda onda [feminista]".

Pois bem. Mas o que defendia Shulamith Firestone? Leiam o que ela escreveu nas conclusões de seu livro (páginas 239 e seguintes da edição de 1970 - tradução nossa):

        [Vamos examinar as nossas quatro exigências mínimas para ver como nossa construção hipotética de um socialismo cibernético se sairá:]
          (...)
   
         3) A integração total de mulheres e crianças na sociedade como um todo. Isso foi cumprido: o conceito de infância foi abolido, as crianças têm direitos legais, sexuais e econômicos completos, suas atividades educacionais/trabalhistas não são diferentes das dos adultos. Durante os poucos anos de sua infância, nós substituímos a "paternidade" genética psicologicamente destrutiva de um ou dois adultos arbitrários por uma responsabilidade difusa de uma coletividade que garante o bem-estar físico da criança. Esta criança ainda formaria relacionamentos amorosos íntimos, mas em vez de desenvolver laços estreitos com uma "mãe" e um "pai" definidos, ela poderia agora formar esses laços com pessoas de sua própria escolha, de qualquer idade ou sexo. Assim, todas as relações adulto-criança serão mutuamente escolhidas - relações íntimas e iguais, livres de subordinações materiais. Assim, apesar de menos numerosas, elas não seriam monopolizadas, mas se misturariam livremente em toda a sociedade para o benefício de todos, satisfazendo assim o desejo legítimo de estar em contato com crianças, o que é frequentemente chamado de "instinto" reprodutivo.

4) Liberdade sexual, amor, etc. Até agora não falamos muito sobre amor e liberdade sexual porque não há razão para isto representar um problema: não haveria nenhum impedimento. Com total liberdade, os relacionamentos humanos acabariam sendo redefinidos para melhor. Se uma criança não conhece sua própria mãe, ou pelo menos não atribui a ela um valor especial em relação aos demais, é improvável que ela a escolha como seu primeiro objeto de amor, apenas para desenvolver inibições nesse amor. É possível que a criança possa formar seus primeiros relacionamentos físicos íntimos com pessoas do seu tamanho por pura conveniência física, assim como homens e mulheres, nas mesmas circunstâncias, podem preferir um ao outro em relação àqueles do mesmo sexo por pura conveniência física. Mas caso a criança escolhesse relacionar-se sexualmente com adultos, mesmo que escolhesse sua própria mãe genética, não haveria razões a priori para que esta rejeitasse seus avanços sexuais, porque o tabu do incesto teria perdido sua função. O "lar", uma forma social transitória, não estaria sujeito aos perigos da endogamia.

Assim, sem o tabu do incesto, os adultos podem retornar dentro de algumas gerações para uma sexualidade polimorfa mais natural, a concentração no sexo genital e o prazer orgástico dando lugar a relações físicas / emocionais totais que o incluem. As relações com as crianças incluiriam tanto sexo genital quanto a criança for capaz - provavelmente  muito mais do que supomos agora -, mas como o sexo genital não seria mais o foco central do relacionamento, a falta de orgasmo não apresentaria um problema sério. Tabus de sexo entre adultos e crianças e sexo homossexual desapareceriam, assim como a amizade não-sexual (o amor "inibido por objetivos" de Freud). Todos os relacionamentos próximos incluiriam o físico; nosso conceito de parcerias físicas exclusivas (monogamia) desaparecendo de nossa estrutura psíquica, assim como a fantasia um Parceiro Ideal. Não sabemos quanto tempo levará para que essas mudanças ocorram, e quais formas surgirão. Mas não devemos nos preocupar com detalhes. Precisamos apenas estabelecer as precondições para uma sexualidade livre: quaisquer que sejam as novas formas de relacionamento, certamente seriam uma melhoria em relação ao que temos agora, "natural" no sentido mais literal do termo.  

           Na fase de transição, o sexo genital adulto e a exclusividade de casais dentro da família podem ter que ser mantidos para que a unidade possa funcionar sem problemas, com um mínimo de tensão interna causada por atritos sexuais. É irrealista impor teorias sobre o que deveria ser uma psique já fundamentalmente organizada em torno de necessidades emocionais específicas. E é por isso que as tentativas individuais de eliminar a possessividade sexual são agora sempre enganosas. Faríamos muito melhor se nos concentrássemos em derrubar as estruturas sociais que produziram essa organização psíquica, permitindo uma gradual – talvez não distante - reestruturação fundamental (ou devo dizer, desestruturação?) de nossa psicossexualidade.

Saudades do tempo em que feministas diziam o que pensavam...

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Sugestão de leitura sobre o feminismo e suas "ondas": "El Libro Negro de la Nueva Izquierda: Ideología de género o subversión cultural", de Nicolás Márquez e Agustín Laje (ebook disponível no site da Amazon).

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