O que tem em comum o suicídio de um morador de rua, o infarto de um travesti, a morte de um homossexual em decorrência de uso de silicone industrial, uma morte em decorrência de disparo acidental de arma e o atropelamento de um transexual? Simples. Todos estes casos estão no chamado “ASSASSINATO DE LGBT NO BRASIL: RELATÓRIO 2016”, elaborado anualmente pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que está disponível em https://homofobiamata.files.wordpress.com/2017/01/relatc3b3rio-2016-ps.pdf. Não que o problema esteja limitado a este ano - isto se repete há mais de uma década, e continua acontecendo atualmente.
Neste “relatório” afirma-se (fl. 03):
ASSASSINATO DE LGBT NO BRASIL: RELATÓRIO 2016
343 LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) foram assassinados no Brasil em 2016. Nunca antes na história desse país registraram-se tantas mortes, nos 37 anos que o Grupo Gay da Bahia (GGB) coleta e divulga tais homicídios. A cada 25 horas um LGBT é barbaramente assassinado vítima da “LGBTfobia”, o que faz do Brasil o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.
Matam-se mais homossexuais aqui do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBT.
Há dois erros graves neste pequeno trecho selecionado. Em primeiro lugar, como mencionado, o “relatório” não lista homicídios, mas mortes. Por homicídio, mas também por suicídio, acidente e até naturais, agrupadas sem critério definido e antes de qualquer investigação.
Estivesse este dado correto, seria tão útil quanto obter o número de mortes que envolvem canhotos, anões ou carecas. Mas é pior. No relatório “Assassinato de LGBT no Brasil”, há heterossexuais e também casos de mortes ocorridas no exterior!
O Brasil teve cerca de 61 mil homicídios em 2016 (https://oglobo.globo.com/brasil/no-brasil-so-5-dos-homicidios-sao-elucidados-7279090). Pegar aleatoriamente os casos que envolvem (direta ou indiretamente) homossexuais é trivial e inútil. Chamar todas estas mortes de crime de homofobia é um erro primário. Incluir na lista mortes acidentais e naturais é desonesto.
Não devemos nos esquecer de que apenas 5% dos homicídios no Brasil são solucionados (https://oglobo.globo.com/brasil/no-brasil-so-5-dos-homicidios-sao-elucidados-7279090). Assim, quando existentes, como afirmar que os raríssimos casos em que há alguma suspeita minimamente fundada existe são, de fato, crimes homofóbicos?
Sim, o relatório tem gráficos bonitinhos e abundantes. Sim, há uma extensa lista de casos. Mas se os dados – supostas mortes por homofobia – são imprestáveis, todo o trabalho deles decorrente também é imprestável.
Fosse um erro isolado, não haveria maiores problemas. Entretanto, estes dados imprestáveis estão sendo utilizados em matérias jornalísticas, trabalhos acadêmicos e discussões políticas. Sem qualquer crítica à sua consistência.
Fica aqui um desafio: façam uma pesquisa dos nomes de qualquer das listas de "crimes homofóbicos", em uma pequena amostra (de dez ou vinte nomes). A grande maioria, se não a totalidade, não será um crimes praticados por ódio a homossexuais, mas crimes comuns cujas vítimas (e muitas vezes, também os autores) são homossexuais.
A morte de inocentes é sempre triste. Utilizar seus cadáveres para fins políticos é ainda mais.
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Exemplo de casos considerados na lista detalhada de (supostos) 343 crimes homofóbicos de 2016 (https://homofobiamata.files.wordpress.com/2017/01/planilha-2016.pdf):
MÁRCIA CABRITA (Cleomar Alves dos Santos) - Caso 20 - faleceu pelo uso de silicone industrial. (http://www.jaguarariacontece.com.br/2016/01/sr-do-bonfim-marcia-cabrita-encontrada.html)
BÁRBARA MALQUIMI (Otoniel Cavalcante Oliveira) - Caso 21 - acidente automobilístico.
(http://planettransgender.com/hit-and-run-kills-brazilian-trans-woman-babara-malquimi/?cn-reloaded=1, http://identidademandacaru.blogspot.com/2016/01/motorista-atropela-travesti-e-foge-sem.html, http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/cidade-alerta-rj/videos/motorista-atropela-pedestre-e-foge-sem-prestar-socorro-em-itaguai-18012016)
ALEXANDRE MARTINS DA SILVA e JOSÉ WILSON MESSIAS COELHO - Casos 88 e 89 - Ambos heterossexuais, foram vítimas de facadas desferidas por um homossexual após Alexandre supostamente ter divulgado um vídeo em que o assassino confesso aparece beijando um homem.
(https://www20.opovo.com.br/app/ceara/crateus/2016/03/18/notcrateus,3590570/homem-diz-ter-cometido-duplo-homicidio-por-divulgacao-de-video-intimo.shtml)
BRUNO CARRARA - Caso 103 - faleceu pelo uso de silicone industrial.
(https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,policia-apura-morte-de-jovem-que-aplicou-silicone,10000025656)
ORLANDO GERÔNIMO PAIVA - Caso 134 - heterossexual, foi defender um sobrinho homossexual de 13 anos que tinha dívida de drogas com um ex-presidiário. "Iniciou-se uma confusão entre o adolescente de 13 anos, sobrinho da vítima, e o homicida, que perseguiu e alcançou o tio até atingi-lo com uma foice e com pedradas". (https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/milha/2016/05/homem-e-morto-a-pedradas-apos-tentar-proteger-sobrinho-em-milha.html)
Há dezenas de outros casos, de 2016 e de outros anos, mas estes servem como exemplo.
Fosse um erro isolado, não haveria maiores problemas. Entretanto, estes dados imprestáveis estão sendo utilizados em matérias jornalísticas, trabalhos acadêmicos e discussões políticas. Sem qualquer crítica à sua consistência.
Fica aqui um desafio: façam uma pesquisa dos nomes de qualquer das listas de "crimes homofóbicos", em uma pequena amostra (de dez ou vinte nomes). A grande maioria, se não a totalidade, não será um crimes praticados por ódio a homossexuais, mas crimes comuns cujas vítimas (e muitas vezes, também os autores) são homossexuais.
A morte de inocentes é sempre triste. Utilizar seus cadáveres para fins políticos é ainda mais.
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Exemplo de casos considerados na lista detalhada de (supostos) 343 crimes homofóbicos de 2016 (https://homofobiamata.files.wordpress.com/2017/01/planilha-2016.pdf):
MÁRCIA CABRITA (Cleomar Alves dos Santos) - Caso 20 - faleceu pelo uso de silicone industrial. (http://www.jaguarariacontece.com.br/2016/01/sr-do-bonfim-marcia-cabrita-encontrada.html)
BÁRBARA MALQUIMI (Otoniel Cavalcante Oliveira) - Caso 21 - acidente automobilístico.
(http://planettransgender.com/hit-and-run-kills-brazilian-trans-woman-babara-malquimi/?cn-reloaded=1, http://identidademandacaru.blogspot.com/2016/01/motorista-atropela-travesti-e-foge-sem.html, http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/cidade-alerta-rj/videos/motorista-atropela-pedestre-e-foge-sem-prestar-socorro-em-itaguai-18012016)
ALEXANDRE MARTINS DA SILVA e JOSÉ WILSON MESSIAS COELHO - Casos 88 e 89 - Ambos heterossexuais, foram vítimas de facadas desferidas por um homossexual após Alexandre supostamente ter divulgado um vídeo em que o assassino confesso aparece beijando um homem.
(https://www20.opovo.com.br/app/ceara/crateus/2016/03/18/notcrateus,3590570/homem-diz-ter-cometido-duplo-homicidio-por-divulgacao-de-video-intimo.shtml)
BRUNO CARRARA - Caso 103 - faleceu pelo uso de silicone industrial.
(https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,policia-apura-morte-de-jovem-que-aplicou-silicone,10000025656)
ORLANDO GERÔNIMO PAIVA - Caso 134 - heterossexual, foi defender um sobrinho homossexual de 13 anos que tinha dívida de drogas com um ex-presidiário. "Iniciou-se uma confusão entre o adolescente de 13 anos, sobrinho da vítima, e o homicida, que perseguiu e alcançou o tio até atingi-lo com uma foice e com pedradas". (https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/milha/2016/05/homem-e-morto-a-pedradas-apos-tentar-proteger-sobrinho-em-milha.html)
Há dezenas de outros casos, de 2016 e de outros anos, mas estes servem como exemplo.