sábado, 10 de fevereiro de 2018

Uber, diferença de remuneração entre sexos e o número preconceituoso

Não há dúvidas de que existe uma diferença de remuneração ("gap") entre o salário pago ao conjunto de homens e ao conjunto de mulheres. Mas a grande questão é saber o porquê desta diferença.

Seres de poucas luzes dão a explicação mais preguiçosa: discriminação! Preconceito contra mulheres! A solução, dizem, é criar leis e mais leis para acabar com qualquer diferença salarial. E se elas não funcionarem? Mais leis, é claro!
Como disse H. L. Mencken: "Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada".
O professor da Universidade de Standford (EUA) e doutor em economia Thomas Sowell (ver seu currículo aqui ou aqui), em seu livro "Fatos e Falácias em da Economia" (1ª edição, Rio de Janeiro: Record, 2017), explica que a tão criticada diferença salarial entre homens e mulheres é complexa e tem várias causas, inclusive escolhas e características femininas ou masculinas. Transcrevemos trechos do capítulo "Fatos e Falácias Masculinos e Femininos":
Apesar de a força física não se mostrar mais um fator primordial (...), atualmente ainda existem indústrias específicas em que uma força física considerável continua a ser exigida. Certamente é provável que mais homens do que mulheres trabalhem nesta área - e algumas delas oferecem empregos que pagam mais do que a média nacional. Enquanto as mulheres representam 74% do que o U.S. Census Bureau classifica como "trabalhadores de escritórios e assemelhados", menos de 5% de "operadores de equipamento de transporte são do sexo feminino. (...) As mulheres representam menos de 4% dos trabalhadores nas áreas de "construção, extração e manutenção". Também são menos de 3% dos trabalhadores na área de construção ou madeireiros, menos de 2% dos construtores de telhados ou pedreiros e menos de 1% dos mecânicos e técnicos que consertam veículos pesados e equipamentos móveis.
Essa distribuição ocupacional tem implicações econômicas evidentes, uma vez que mineradores ganham quase o dobro da renda de auxiliares de escritório, quando ambos trabalham em período integral e o ano inteiro. Ainda existe um bônus pago a trabalhadores que fazem serviço físico pesado ou insalubre, que costuma se sobrepor ao trabalho que exige força física. Enquanto 54% da mão de obra são compostos de homens, o sexo masculino responde por 92% das mortes relacionadas com o trabalho. (fl. 89/90)
Além de evitar ocupações que exijam força física acima da média, as mulheres tendem a fazer escolhas de carreira influenciadas pela probabilidade de em algum momento se tornarem mãe. (fl. 90)
(...) interrupções na participação na força de trabalho para cuidar de filhos pequenos até alcançarem idade suficiente para serem colocados em creches enquanto a mãe volta ao trabalho significam que uma mulher poderá ter menos anos de experiência de trabalho do que um homem da mesma idade, uma vez que essas interrupções são mais incomuns para o sexo masculino. (...) a probabilidade de haver interrupções futuras em função da perspectiva do seu papel de mãe possa fazer com que colocá-la num cargo superior seja mais arriscado do que colocar um homem com capacidade semelhante neste mesmo cargo. (fl. 91)
(...) como os homens nunca engravidam, as mulheres ficam em desvantagem num trabalho desse tipo em função das restrições físicas da gestação, que podem representar limitações em cargos que exigem horários longos, irregulares e imprevisíveis, além de viagens repentinas a lugares distantes, assim como o maior estresse de casos jurídicos com muitos interesses em jogo. (fl. 94)
A revista The Economist observou o seguinte:
A principal razão pela qual as mulheres ainda têm menores salários do que os homens não é que se pague menos pelos mesmos empregos, mas que elas tendem a não chegar tão longe na carreira ou escolhem ocupações com a menor remuneração, como enfermagem e educação. (fl. 95)
Conforme já se observou, comparar mulheres e homens que nunca se casaram, já passaram da idade de ter filhos e trabalham em período integral no século XXI mostra que, nestas circunstâncias, mulheres ganham mais do que os homens. (fl. 105)
A Prager University, organização voltada para a produção de conteúdo educacional, produziu vídeos sobre o tema. Destacamos dois, repletos de dados e fontes:
1) There Is No Gender Wage Gap
 (https://www.youtube.com/watch?v=QcDrE5YvqTs)
 2) The Myth of the Gender Wage Gap
 (https://www.youtube.com/watch?v=1oqyrflOQFc)
Pois bem.
Em janeiro de 2018, Rebecca Diamond, professora de economia da Universidade de  Stanford, juntamente com os economistas Jonathan Hall e Cody Cook, do Uber, publicaram um interessante estudo sobre a remuneração paga pelo Uber, que é determinada por uma fórmula simples e pública que não varia em razão do sexo dos motoristas.
Analisou-se a remuneração de mais de um milhão de motoristas, e constatou-se um gap salarial de 7% entre homens e mulheres. E este gap não pode ser atribuído a qualquer preconceito da empresa, eis que qualquer um pode se inscrever e trabalhar com o serviço (desde que se atenda, é claro, a determinados critérios objetivos e impessoais, como ausência de antecedentes criminais, ano e modelo do veículo, etc.).
Felizmente, como o Uber mantém uma enorme base de dados (com motoristas, histórico de trajetos, tempo de corrida e outros), o estudo foi capaz de verificar as causas deste gap. Transcrevo parte deste estudo (tradução nossa):
Descobrimos que os homens ganham cerca de 7% a mais por hora do que as mulheres em média, o que está de acordo com as estimativas anteriores de diferenças de ganhos de gênero em empregos especificamente definidos (Bayard et al., 2003), Barth et al. (2017)). Podemos justificar todo este gap por três fatores. Em primeiro lugar, através da lógica de compensação de diferenciais, os ganhos horários em Uber variam previsivelmente por local e hora da semana, e os homens tendem a dirigir em locais mais lucrativos. O segundo fator é a experiência de trabalho. Mesmo na realização relativamente simples de uma viagem de passageiros, a experiência do passado é valiosa para os motoristas. Um motorista com mais de 2.500 viagens realizadas ganha 14% mais por hora do que um motorista que completou menos de 100 viagens em seu tempo na plataforma, em parte por saber onde dirigir, quando dirigir e como estrategicamente  cancelar e aceitar viagens. Os motoristas do sexo masculino acumulam mais experiência do que as mulheres dirigindo mais a cada semana e sendo menos propensos a parar de dirigir com Uber. Devido a esses retornos para experimentar e porque o motorista masculino típico do Uber tem mais experiência do que a mulher motorista - colocando-os mais alto na curva de aprendizado - os homens ganham mais dinheiro por hora.
A diferença residual de ganhos de gênero que persiste após o controle desses dois fatores pode ser explicada por uma única variável: velocidade média de condução. O aumento da velocidade aumenta o desempenho esperado do motorista em quase todas as configurações do Uber. Os condutores são pagos de acordo com a distância e tempo que eles viajam na viagem e, na grande maioria dos casos, a perda de pagamento por minuto ao dirigir rapidamente é superada pelo valor de completar uma viagem rapidamente para iniciar a próxima viagem mais cedo e gera um pagamento maior de milhas percorridas (no conjunto de todas as viagens). Mostramos que a maior velocidade de condução dos homens é devido à preferência, uma vez que os motoristas parecem insensíveis ao incentivo para dirigir mais rápido. A maior velocidade média dos homens e o valor produtivo da velocidade para o Uber e os motoristas (e, presumivelmente, os passageiros) aumentam a diferença salarial neste mercado de trabalho.
(...)
Conclusão
(...)
Apesar dessas diferenças, mostramos que, como nos empregos tradicionais, existe uma diferença salarial entre homens e mulheres. No entanto, ao contrário de estudos anteriores, somos capazes de explicar completamente a diferença salarial com três fatores principais relacionados às preferências e aprendizado do motorista: retorna à experiência, um prémio de pagamento para uma condução mais rápida e preferências para onde dirigir.
O estudo completo pode ser lido em https://web.stanford.edu/~diamondr/UberPayGap.pdf. Uma introdução/explicação dos próprios autores pode ser vista aqui.
Considerando-se que o Uber se utiliza de um programa binário para aplicar sua fórmula simples e pública que não considera o sexo do motorista, os seres de poucas luzes terão que dizer que a razão da diferença salarial entre homens e mulheres na plataforma só pode ser um preconceito inerente ao 0 (zero) ou ao 1 (um).
Aposto no 1.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Música: Michael Bublé - Feeling Good

Versão do cantor Michael Bublé para a música "Feeling Good", originalmente gravada por Nina Simone no álbum "I Put a Spell on You", de 1965.



14º Intereclesial das CEBs do Brasil






Entre 21 e 25 de janeiro de 2018, em Londrina/PR, representantes dos 18 regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participaram de um encontro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). 


Houve a distribuição de um texto-base para as discussões, texto este disponível em www.missioitalia.it/wp-content/uploads/2017/12/news1_cebs_texto-base.pdf


Destacamos alguns trechos deste texto-base:


A composição de classes define o rosto das cidades e as condições de vida de seus habitantes, na medida em que elas são organizadas pelo mercado, isto é, pela distribuição dos bens conforme a lei da oferta e procura, fazendo que os bens mais procurados se tornem mais caros.  (fl. 13)
Se a lógica do mercado leva à segregação social, a solidariedade da população se contrapõe a essa tendência, estabelecendo encontros, mantendo a capacidade de se alegrar em meio às dificuldades, de festejar, e desencadear processos inovadores no âmbito da cultura e da ação social e política. (fl. 14)

Essa manipulação do pensamento paulino ainda hoje legitima a ordem capitalista mundial, o antifeminismo, a violência racial, a intolerância religiosa, enfim, a discriminação de quem é diferente. Libertar a humanidade do poder da morte pede que libertemos Paulo da ideologia que o amarrou aos poderes do mundo.  (fl. 30)


E não tem sido só a construção de casas, mas a construção de pessoas, de valores que se contrapõem aos da sociedade capitalista: a colaboração, a solidariedade, o reaproveitamento, o trabalho coletivo e em mutirão, a produção de alimentos sem agrotóxicos, a troca, a amizade e o cuidado. Isso revela pedagogias emancipatórias sendo colocadas em prática na luta pela terra e pela moradia na cidade. (fl. 112)

Aqui, algumas das imagens do evento:




O jornalista Bernardo P. Küster produziu vídeos sobre o encontro: 

https://www.youtube.com/watch?v=5-hnf-Z9vD8

https://www.youtube.com/watch?v=qndau1if6CY

https://www.youtube.com/watch?v=J5afKQlhI2Y

FUI INJUSTO QUANTO AO PT NA IGREJA
https://www.youtube.com/watch?v=4xlAcVQfEvQ

Divirtam-se.